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terça-feira, 26 de julho de 2011

Home holy home


Acabo de chegar da China trazendo na bagagem fotos e lembranças especiais de lugares sagrados como a Cidade proibida e a Grande Muralha em Beijing, a Zhujiajiao water town em Shanghai, a Longjing Tea Village onde se cultiva há séculos o melhor chá verde da China, o Templo budista Linyin e o Templo do Buda de Jade.

Adoro viajar e tenho sido abençoada com oportunidades de visitar destinos incríveis como a Índia, e agora a China.

Mas também adoro voltar pra casa. Aqui é o meu lugar sagrado. Home holy home.

O jetlag ainda não me deixou organizar suficientemente as idéias para gerar um texto meu, então, tomei aqui emprestado um texto espetacular do Eugênio Mussak para expressar a minha sensação de passear pelo mundo e voltar pra casa.

“Não sei se é possível explicar a sensação de estar em um lugar sagrado. Você é naturalmente levado à contemplação. Quer ficar quieto, apenas observando. Pode não ser fácil descrever um lugar sagrado, mas percebe-se claramente quando se está em um.

O sentimento do sagrado deriva do próprio local ou ele deriva uso que se fez desse local?

Os locais considerados sagrados exercem uma influência sobre as pessoas, normalmente descrita como um sentimento de paz interior. Eu senti isso locais que tive a oportunidade de conhecer. E nunca procurei –importante esclarecer – teorizar sobre a origem desse sentimento, pois isso poderia estragar a magia da experiência. Não importa o quanto aquele local tem de energia própria e quanto de programação psicológica eu estava providenciando para mim mesmo.

Lugares sagrados são aqueles que, de alguma forma, colocam o homem em uma dimensão diferente daquela em que ele trava sua luta diária de sobrevivência. É uma espécie de recarregador de baterias, considerando que a energia que precisamos para viver não vem apenas dos carboidratos, mas também de fontes existenciais. O Homem é o único ser que padece da lógica que o leva a questionar a razão de sua própria existência.

Para que estamos aqui, afinal? Seriamos meros entrepostos de gens, destinados a participar do processo de sobrevivência de nossa espécie, e pronto? Não, ninguém gosta de aceitar essa premissa de natureza tão simples. A consciência deu ao Homem duas missões: a de se diferenciar na Natureza e de justificar sua própria existência através de suas ações. Tarefa difícil, essa de ser gente. Não é nada fácil explicar para si mesmo o sentido da vida e dar conta do recado de não ser mero participante da cadeia alimentar, entre o vegetal produtor e a bactéria decompositora.

Por isso os locais sagrados são importantes, porque eles nos conectam com aquilo que gostamos de chamar dimensão superior, de divino, ou simplesmente de Deus. Na verdade, todos nós já temos essa dimensão divina no peito, mas sentimos que ela precisa ser plugada, de tempos em tempos, em uma tomada de energia divina externa a nós mesmos. Algo maior que o humano, que materializamos em forma de orações, cultos, ritos e locais sagrados.

Os templos e outros tipos de locais sagrados são, na verdade, obras do homem, mas gostamos de atribuir à sua edificação uma ordem superior, e a seu local algum fato transcendental. Todas as religiões observam os locais de nascimento, de morte ou de pregação de seus profetas. Eles funcionam como portais para a dimensão superior que nos aguarda, e com a qual gostamos de nos conectar desde já com a finalidade de orientar nossa vida terrena.

Portanto, locais sagrados são bons, úteis e necessários, e mesmo quem não curte a idéia da eternidade, não consegue se livrar da necessidade de paz interior. O que vai variar imensamente entre as pessoas é a qualidade desse local. Locais sagrados são, comumente, relacionados a locais de práticas religiosas, como igrejas e templos, mas essa ligação, ainda que comum, não é determinante nem definitiva. Em outras palavras, locais religiosos são sempre sagrados, mas locais sagrados não precisam ser necessariamente religiosos.

Local sagrado é aquele que nos conecta com uma dimensão maior do que a da prática cotidiana. Por isso os templos são também obras de arte, em que a arquitetura, a escultura e a pintura estão presentes, às vezes em doses espetaculares (basta entrar em uma igreja medieval), ou locais onde se pratica a música, seja o canto gregoriano ou pop evangélico moderno. A arte precisa estar presente porque ela é uma espécie de símbolo da possibilidade do Homem. O artista é o preposto de Deus tanto quanto o sacerdote. Mas, cuidado, pois há arte sagrada no cotidiano também, e só quem consegue perceber isso muda o patamar de sua vida prática. Nossos locais pessoais podem ser transformados em locais sagrados. Os locais sagrados são principalmente aqueles que nós mesmos construímos e neles colocamos nossa melhor parte.

Minha casa é um local sagrado, bem como meu trabalho, o parque onde passeio, a livraria que gosto de freqüentar, a academia onde cuido da saúde. Locais sagrados são aqueles em que trabalhamos, estudamos, produzimos, conversamos, amamos. Se esses lugares não forem sagrados, dificilmente o serão os templos e os sítios históricos.

Sagrada é a vida que vale a pena, que não compactua com o destrutivo, que não se contenta com o mínimo, que busca o excelente, que distribui compaixão, afeto livre, amor verdadeiro. Lugar sagrado é o próprio corpo, que merece cuidado; é a mente, que precisa do conhecimento; é a emoção, que precisa do belo. Lugar sagrado é o espaço ao nosso redor, que conquistamos com nossa própria energia, e que será tão maior quanto for nossa intensidade de viver”.

Meu lugar sagrado. Texto original - Revista Vida Simples nº 103 01/03/2011 - Por Eugênio Mussak

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