Compartilhar experiências sobre a Índia é um desafio. É preciso tempo pra digerir tudo o que se absorve por aqui.
O impacto é grande na terra do superlativo: muita gente, muito barulho, muitos cheiros, muitas cores, muita sujeira, muita fé, muito lixo, muita devoção, muito calor, muito frio.
Definitivamente, somos chutados da nossa zona de conforto. É como fazer prova de vestibular várias vezes por dia. Se você achava que tinha alguma certeza, esqueça.
Essa é a minha segunda temporada por esse lado do planeta, portanto, tudo me soa mais familiar. O meu “indianês” é fluente e tenho alguns bons amigos. Conheço um pouco da cultura, adoro a culinária, sei cantar direitinho alguns mantras, rezo uma Japamala inteira todos os dias pra Narayana, medito, faço Pranayamas e sou louca por Yoga. Praticamente uma cidadã do mundo pronta pra seguir em busca de evolução.
Ã-hã
Confesso que perdi a paciência e o bom humor algumas vezes. O que me fez pensar que é preciso fortalecer as minhas raízes pra que, em qualquer lugar onde eu esteja, não importa a força da ventania, vou continuar de pé.
“Amar incondicionalmente ao próximo” não exclui quem pisou no seu pé, te empurrou na fila, cobrou mais do que era justo por um produto barato ou buzinou freneticamente no seu ouvido. E essa é a temática recorrente entre todos os líderes espirituais que conheço. Nenhum deles falou pra sermos trouxas. Mas eles nos lembram o tempo inteiro que a nossa inteligência é um presente divino. Que a possibilidade de raciocinar e decidir a reação adequada a um estímulo é o que nos diferencia dos macacos, vacas e cachorros de Rishikesh.
Ser gentil e simpático leva o mesmo tempo que ser rude e impaciente, só que é muito mais divertido.
A ironia é que percebi tudo isso observando não os Gurus famosos da índia, mas, o meu companheiro da viagem - meu marido. Ele é como uma ilha pra ele mesmo. Também pisaram no pé dele, buzinaram mais alto do que deviam e cobraram caro por coisas baratas. E ele morria de rir e sempre tinha uma reação civilizada, entendendo que ele é o intruso por aqui onde as referências são outras e, principalmente, que nada disso é pessoal.
Convivo diariamente com o meu marido e não precisava viajar pra tão longe pra “realizar” essa qualidade dele que, aliás, eu já conhecia.
Coisas da Índia...
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